quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Disse que me disse: Complexo Arquitetônico de Lazer da Pampulha

 A cidade de Belo Horizonte vivia, já nos anos 30, do século XX, um momento crítico em relação ao abastecimento de água, devido à expansão dos bairros periféricos e ao aumento populacional. Otacílio Negrão de Lima, então prefeito de Belo Horizonte, observando a mataria e o córrego da Pampulha, vislumbrou a possibilidade de ali implantar uma lagoa artificial. O plano de urbanização da Pampulha com a criação da represa, anunciada pelo prefeito em outubro de 1935, reforçaria o abastecimento de água na cidade. Este plano foi então encomendado ao engenheiro Henrique de Novais, vale ressaltar que nenhum cuidado com a preservação dos mananciais foi tomada e posteriormente, o córrego alimentador da represa foi ocupado sem nenhum critério, transformando-se em esgoto a céu aberto.

A Barragem, inaugurada em 1938, acabou se transformando em uma obra de grande vulto, e constituía-se em uma faixa de concreto armado em plano inclinado, que serviria para sustentar o peso das águas represadas. Para a estação de tratamento de água, apresentaram-se grandes inovações, foi construída de modo que seria totalmente movida mecanicamente e aparelhada com o que havia de mais moderno. A estação foi desativada em 1979 e a represa passou a operar como reservatório de amortecimento de pico de cheia das bacias da região.

Em abril de 1940, Juscelino Kubitschek substitui Otacílio Negrão de Lima, ele então discursou a favor da necessidade de construir uma cidade mais moderna. Inicialmente convidou o arquiteto francês, Alfred Agache, que havia feito o plano urbanístico do Rio de Janeiro, para conhecer a Pampulha e sugerir um plano para o local. Agache aconselhou que ali se fizesse uma área de produtos hortifrutigrangeiros. Decepcionado com tal sugestão, ele toma então, a decisão de organizar um concurso, que não deu muito certo, então, Rodrigo de Melo Franco de Andrade, diretor do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em uma visita a Belo Horizonte, apresentou a Juscelino o jovem arquiteto carioca Oscar Niemeyer, que demonstrou uma fina sintonia com essas idéias de Juscelino.

De forma pioneira, o arquiteto pôde explorar nos projetos para o Conjunto da Pampulha, inaugurado em 1943, as diversas soluções oferecidas pelo concreto armado, apontando novos rumos para a arquitetura moderna, então produzida sob a influência do racionalismo funcionalista.

O encontro de Juscelino com Niemeyer, deu início a uma parceria que colocaria em prática, as idéias de modernização do prefeito, com a inovação do arquiteto. O Complexo Arquitetônico de Lazer da Pampulha se concretizou com a criação do clube náutico – Iate Golfe Clube – que previa uma sede na orla, hoje o Iate Tênis Clube e outra que seria a parte do golfe, onde se localiza atualmente a fundação Zôo-Botânica, o Cassino – hoje Museu de Arte da Pampulha, a Casa do Baile e a Igreja de São Francisco de Assis que foram projetados para serem implantados às margens do lago. Além das quatro obras, Niemeyer projetou um hotel que nunca chegou a ser construído e uma residência de fim de semana para o prefeito. Era, de certa forma, uma maneira de atrair famílias para ocuparem o loteamento residencial no entorno da represa, segundo o modelo de bairros-jardins.

Estes projetos foram citados como o “grande entusiasmo” da geração da década de 1940. E eles contaram também com a contribuição de obras realizadas por talentosos artistas, tais como: painéis de Portinari, jardins de Burle Marx, escultura de João Ceschiatti, mosaico de Paulo Werneck, dentre outros, constituindo-se numa verdadeira “síntese das artes”.

O reconhecimento da importância deste conjunto como símbolo relevante da história do movimento moderno brasileiro, bem como fator significativo da identidade de Belo Horizonte, determinou o seu tombamento como patrimônio cultural em nível federal, estadual e municipal. Além do valioso acervo arquitetônico original, o Complexo da Pampulha abrange, atualmente, diversos espaços para o desenvolvimento do lazer e do turismo na capital mineira.

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